Escola onde atua, neste dia, mês e ano atuais
PREZADOS
(AS) COLEGAS,
Assim como cada um de vocês, sou
professor e muito tenho me decepcionado com o número cada vez crescente de
alunos com dificuldade de aprendizagem. Porém, tenho notado também, que NÓS SÓ
APRENDEMOS AQUILO QUE NOS É SIGNIFICATIVO, ou seja, se o conteúdo não for
interessante, não nos tornamos interessados e, por consequência, não
aprendemos. Tomemos como exemplos:
1- quem sabe o que é um
artrópode? Sei que os professores de Ciências dirão: “que besteira!” Mas outros
procurarão o dicionário antes de responder.
2- e o que significa a palavra
grilhão? Os professores de Língua Portuguesa serão os primeiros a responder, de
certo.
Não somos os detentores do
saber, não conhecemos tudo – e já passamos pelo Ensino Fundamental, Ensino
Médio e, no mínimo, pela faculdade. Mas não sabemos de tudo! Então, por que
esperamos que o nosso aluno saiba de tudo? “Porque eu ensinei!”, responderão alguns.
Então pergunto mais uma vez: “será que o objeto ensinado é significativo, tem
alguma relevância, é importante para esse aluno?” e mais: “Você, como
professor, consegue, de fato, responder as suas próprias avaliações (aquelas
que são entregues aos seus alunos a cada final de unidade) sem fazer o uso de
fonte de pesquisa, tendo certeza absoluta de que suas respostas estão
corretas?”
Prezados e prezadas, vivemos
outros tempos. Os nossos alunos têm outros interesses e a escola, nos moldes
tradicionais, é a mesma que estacionou no século XVI: aquela trazida pelos Jesuítas
a partir da exploração do Brasil por Portugal – e nós apenas reproduzimos esse
modelo, ou seja, queremos que os nossos alunos, sedentos por coisas novas,
interessantes, rápidas, aprendam o blá-blá-blá cuspido pelas nossas
metodologias jurássicas, sentadinhos, quietos, sem nada prático, real,
concreto, palpável, visual. E além disto, amados colegas, na maioria, são esses
alunos provenientes de escolas rurais, onde a maior parte dos professores têm
apenas o Ensino Médio ou estão em formação – sem jamais ter cursado, ao menos, o
Magistério!
Fico deveras preocupado quando
um colega de trabalho reclama que aluno X não quer nada. Em parte ele, o
professor ou a professora tem razão, pois sabemos que alguns não apresentam
qualquer interesse com a educação, mas se formos procurar as razões
encontramos:
O aluno Z, da série “A”, não ler
corretamente. Quem detectou a deficiência visual dele?
A aluna M, da série “B”, em
determinados momentos parece se ausentar totalmente do mundo, sabes o por quê?
Ela vive e está entrado no mundo das drogas.
Já Y, da série “C”, presenciou
seu pai e seu irmão matarem duas pessoas.
Enquanto que T, da série “D”,
presencia diariamente seu pai chegar alcoolizado, bater em sua mãe e, como a
casa tem apenas um vão, todos dormem juntos e ele já viu seus pais tendo
relação sexual por várias vezes.
Alguém já havia detectado esses
fatos?
Estes são apenas alguns exemplos
de fatos reais: detectados através de depoimentos/entrevistas com alunos que
apresentam dificuldades de aprendizagem.
Então, alguns dirão: “e o que
tenho haver com isto?”
E eu respondo: “tudo!”
Ser professor, hoje, é ser
proativo. Reclamar da realidade e não procurar mudá-la é o mesmo que você ter
um espinho furando o teu pé, mas você continua pisando no chão sem tirar o
incômodo, então reclama que está doendo, xinga pela dor, mas continua a sua
caminhada com toda a insatisfação.
Quando se pensou no projeto de
leitura e nas paradas sistêmicas, foi simplesmente para o desenvolvimento da
aprendizagem através da leitura. Só se aprende a ler, lendo e muitos desses
alunos não sabem ler – em qualquer das nossas séries.
Os alunos que vêm do interior
não têm, na sua maioria, um projeto de futuro, ou seja, a roça é o seu fim (em
suas cabecinhas). Então, para quê leitura?
Outros, de onde forem, não sabem
ler um gráfico ou uma bula ou ainda um rótulo. Tudo isto não é texto? Como pode
o aluno aprender Geometria se não sabe o que é uma semirreta? Então, o
professor chega à sala e dar o seu recado teórico, desenha no quadro, sai e
nenhum exemplo concreto fica.
Não é por ser professor desta ou
daquela disciplina que não se pode trabalhar os gêneros textuais. Cada uma das
disciplinas tem necessidade desses gêneros e foi pensando nisto que nasceu este
projeto de leitura. Mas quem, de fato, o assumiu? São os conteúdos mais
importantes que a leitura? Respondo: NÃO! Do que adianta cumprir com o
programa ou concluir o livro de “cabo a rabo”, como diria minha avó, se o aluno
não sabe identificar a diferença entre um equino e um ovino? Ou o que significa
a palavra cactáceo? Ou ainda as dimensões da área onde ele planta?
Só conseguimos conhecer isto ou
aquilo através da leitura e de uma leitura significativa e crítica, voltada
para os interesses do indivíduo e não do professor.
Vejo, através desta planilha abaixo,
que não houve interesse pelo projeto. Percebo que muitos dos meus colegas estão
muito mais voltado para o “conteudismo” do que para o crescimento do aluno.
Vejo isto, principalmente porque notei que nos dias determinados para trabalhar
a leitura, poucos foram aqueles que realmente pararam e o fizeram. Infelizmente
não pode haver culminância daquilo que não foi trabalhado.
Mas, para tudo há conserto: hoje
encerramos a III unidade e segunda-feira iniciamos a IV e com ela a
continuidade do Projeto de Leitura, conclusão e culminância do Projeto de Meio
Ambiente – Caatinga. Podemos aproveitar esse período para menos reclamarmos dos
nossos alunos, assumirmos o nosso papel de PROFESSORES e PROFESSORAS e nos
preocuparmos mais com o crescimento individual da nossa “clientela” - tão
carente de atenção e de aprendizagem.
“Mas e quanto as avaliações
externas?” Lembrando: não paramos, ou seja, o projeto de leitura não é diário.
A proposta é que se pare um dia na semana: basta olhar o cronograma do projeto.
VAMOS ARREGAÇAR AS MANGAS E
TOCAR EM FRENTE A NOSSA ESCOLA. Estamos juntos e sendo companheiros podemos nos
ajudar. Não sabemos tudo, mas podemos dividir os conhecimentos e como tal,
podemos somar as ideias.