sábado, 5 de maio de 2012

CARTA AOS PROFESSORES


Escola onde atua, neste dia, mês e ano atuais

PREZADOS (AS) COLEGAS,

Assim como cada um de vocês, sou professor e muito tenho me decepcionado com o número cada vez crescente de alunos com dificuldade de aprendizagem. Porém, tenho notado também, que NÓS SÓ APRENDEMOS AQUILO QUE NOS É SIGNIFICATIVO, ou seja, se o conteúdo não for interessante, não nos tornamos interessados e, por consequência, não aprendemos. Tomemos como exemplos:
1- quem sabe o que é um artrópode? Sei que os professores de Ciências dirão: “que besteira!” Mas outros procurarão o dicionário antes de responder.
2- e o que significa a palavra grilhão? Os professores de Língua Portuguesa serão os primeiros a responder, de certo.
Não somos os detentores do saber, não conhecemos tudo – e já passamos pelo Ensino Fundamental, Ensino Médio e, no mínimo, pela faculdade. Mas não sabemos de tudo! Então, por que esperamos que o nosso aluno saiba de tudo? “Porque eu ensinei!”, responderão alguns. Então pergunto mais uma vez: “será que o objeto ensinado é significativo, tem alguma relevância, é importante para esse aluno?” e mais: “Você, como professor, consegue, de fato, responder as suas próprias avaliações (aquelas que são entregues aos seus alunos a cada final de unidade) sem fazer o uso de fonte de pesquisa, tendo certeza absoluta de que suas respostas estão corretas?”
Prezados e prezadas, vivemos outros tempos. Os nossos alunos têm outros interesses e a escola, nos moldes tradicionais, é a mesma que estacionou no século XVI: aquela trazida pelos Jesuítas a partir da exploração do Brasil por Portugal – e nós apenas reproduzimos esse modelo, ou seja, queremos que os nossos alunos, sedentos por coisas novas, interessantes, rápidas, aprendam o blá-blá-blá cuspido pelas nossas metodologias jurássicas, sentadinhos, quietos, sem nada prático, real, concreto, palpável, visual. E além disto, amados colegas, na maioria, são esses alunos provenientes de escolas rurais, onde a maior parte dos professores têm apenas o Ensino Médio ou estão em formação – sem jamais ter cursado, ao menos, o Magistério!
Fico deveras preocupado quando um colega de trabalho reclama que aluno X não quer nada. Em parte ele, o professor ou a professora tem razão, pois sabemos que alguns não apresentam qualquer interesse com a educação, mas se formos procurar as razões encontramos:
O aluno Z, da série “A”, não ler corretamente. Quem detectou a deficiência visual dele?
A aluna M, da série “B”, em determinados momentos parece se ausentar totalmente do mundo, sabes o por quê? Ela vive e está entrado no mundo das drogas.
Já Y, da série “C”, presenciou seu pai e seu irmão matarem duas pessoas.
Enquanto que T, da série “D”, presencia diariamente seu pai chegar alcoolizado, bater em sua mãe e, como a casa tem apenas um vão, todos dormem juntos e ele já viu seus pais tendo relação sexual por várias vezes.
Alguém já havia detectado esses fatos?
Estes são apenas alguns exemplos de fatos reais: detectados através de depoimentos/entrevistas com alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem.
Então, alguns dirão: “e o que tenho haver com isto?”
E eu respondo: “tudo!”
Ser professor, hoje, é ser proativo. Reclamar da realidade e não procurar mudá-la é o mesmo que você ter um espinho furando o teu pé, mas você continua pisando no chão sem tirar o incômodo, então reclama que está doendo, xinga pela dor, mas continua a sua caminhada com toda a insatisfação.
Quando se pensou no projeto de leitura e nas paradas sistêmicas, foi simplesmente para o desenvolvimento da aprendizagem através da leitura. Só se aprende a ler, lendo e muitos desses alunos não sabem ler – em qualquer das nossas séries.
Os alunos que vêm do interior não têm, na sua maioria, um projeto de futuro, ou seja, a roça é o seu fim (em suas cabecinhas). Então, para quê leitura?
Outros, de onde forem, não sabem ler um gráfico ou uma bula ou ainda um rótulo. Tudo isto não é texto? Como pode o aluno aprender Geometria se não sabe o que é uma semirreta? Então, o professor chega à sala e dar o seu recado teórico, desenha no quadro, sai e nenhum exemplo concreto fica.
Não é por ser professor desta ou daquela disciplina que não se pode trabalhar os gêneros textuais. Cada uma das disciplinas tem necessidade desses gêneros e foi pensando nisto que nasceu este projeto de leitura. Mas quem, de fato, o assumiu? São os conteúdos mais importantes que a leitura? Respondo: NÃO! Do que adianta cumprir com o programa ou concluir o livro de “cabo a rabo”, como diria minha avó, se o aluno não sabe identificar a diferença entre um equino e um ovino? Ou o que significa a palavra cactáceo? Ou ainda as dimensões da área onde ele planta?
Só conseguimos conhecer isto ou aquilo através da leitura e de uma leitura significativa e crítica, voltada para os interesses do indivíduo e não do professor.
Vejo, através desta planilha abaixo, que não houve interesse pelo projeto. Percebo que muitos dos meus colegas estão muito mais voltado para o “conteudismo” do que para o crescimento do aluno. Vejo isto, principalmente porque notei que nos dias determinados para trabalhar a leitura, poucos foram aqueles que realmente pararam e o fizeram. Infelizmente não pode haver culminância daquilo que não foi trabalhado.
Mas, para tudo há conserto: hoje encerramos a III unidade e segunda-feira iniciamos a IV e com ela a continuidade do Projeto de Leitura, conclusão e culminância do Projeto de Meio Ambiente – Caatinga. Podemos aproveitar esse período para menos reclamarmos dos nossos alunos, assumirmos o nosso papel de PROFESSORES e PROFESSORAS e nos preocuparmos mais com o crescimento individual da nossa “clientela” - tão carente de atenção e de aprendizagem.
“Mas e quanto as avaliações externas?” Lembrando: não paramos, ou seja, o projeto de leitura não é diário. A proposta é que se pare um dia na semana: basta olhar o cronograma do projeto.
VAMOS ARREGAÇAR AS MANGAS E TOCAR EM FRENTE A NOSSA ESCOLA. Estamos juntos e sendo companheiros podemos nos ajudar. Não sabemos tudo, mas podemos dividir os conhecimentos e como tal, podemos somar as ideias.